Stress, insatisfação, depressões, inseguranças, desajustamentos, vícios e até suicídios: o trabalho é uma fonte de infelicidade ou existem pessoas felizes com o que fazem nas organizações a que pertencem?

Divino castigo ou fonte de plenitude da realização humana? Todo trabalho comporta em si mesmo uma dimensão de insatisfação. A realidade normalmente resiste á ação daquele que trabalha.

A questão é como superar essa insatisfação, compreendê-la como intrínseca àquilo que fazemos, ou, pelo menos, contê-la em níveis aceitáveis. A norma de conduta em nossa sociedade é de se declarar satisfeito no trabalho, mesmo quando não se seja.

Mesmo aqueles que se dizem entusiasmados com o que fazem, costumam rejeitar a idéia de que seus filhos se engajem nas mesmas atividades. Dizem: "é muito bom para mim, mas não quero isso para o meu filho".

É evidente que quando o trabalho é desqualificado, rotineiro e sem sentido de contribuição, as chances de realização e de satisfação são muito frágeis. A reorganização da economia e das empresas, a partir dos paradigmas neoliberais da sociedade de mercado e da globalização ocorridas a partir dos anos 1980, aprofundou as causas de insatisfação no trabalho.

Para que a satisfação no trabalho volte a se tornar um pouco menos raro na realidade empresarial, é preciso restaurar culturas organizacionais que foquem os liames sociais coletivos, que unam os trabalhadores em torno de coletividades profissionais, sindicais e políticas como a estratégia dominante de elaboração dos modelos alternativos de desenvolvimento das organizações.

Não se trata de voltar ao passado num saudosismo estéril e desprovido de sentido, mas retirar dos avanços alcançados pelas ciências do comportamento humano nas organizações os repositórios de contribuições tão válidos à humanização do trabalho.

Wagner Siqueira é membro da Academia Brasileira de Ciências da Administração, Vice-Presidente da Escolinha de Artes do Brasil e membro do Conselho Consultivo da FGV Empresa Junior.

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