Nas últimas semanas, as redes sociais e os grupos de whatsapp viralizaram histórias de pequenos empresários que pedem socorro. São comerciantes que dedicaram suas vidas àquele pequeno negócio familiar e que agora, diante da crise causada pela Covid-19, correm o risco de fechar suas portas.

Foi o caso, por exemplo, de um comerciante de plantas em São Paulo, que teve que fechar o seu negócio por 70 dias e percebeu que, do jeito que estava, não conseguiria se sustentar por tanto tempo. Nelson Simeão, de 80 anos, mantém sua loja há 50 anos. Diante do desespero, deixou-se ser fotografado com uma placa com os seguintes dizeres: “Ajude-me a sair da falência”. Seu Nelson não pedia dinheiro. Queria apenas sua clientela de volta.

A imagem correu o Brasil e o negócio — que antes da Covid-19 atendia cerca de 25 pessoas por dia — recebeu mais de 80 clientes após a divulgação da imagem. Em menos de uma semana já eram mais de 500.

Assim como seu Nelson, temos em todo o país milhares de microempreendedores que pedem socorro. E a palavra da vez, como se viu no caso acima, é solidariedade. O brasileiro sente as dores do comerciante, da pequena quitanda da esquina e se apresenta para oferecer a mão.

Isso fica mais claro quando anônimos, artistas e influenciadores abrem espaço em suas redes sociais para divulgação de pequenas empresas que passam por dificuldades. O Instagram até lançou o selo “Apoie as Pequenas Empresas”, que permite que o usuário indique aos seus seguidores um negócio.

Do outro lado temos a resiliência e o compromisso do empreendedor. No Brasil, existem 6,4 milhões de estabelecimentos comerciais. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE). As MPEs respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado.

Por muito tempo, o empresário brasileiro carregou nas costas o estigma de ser o defensor de modelos econômicos que contrapunham trabalhadores e empresários, como se lutar por uma economia mais dinâmica e próspera significasse se colocar na contramão dos interesses sociais. Hoje vemos empresários de todo o país unidos pela manutenção de milhões de empregos. São eles que estão batendo na porta dos bancos, pressionando os poderes Legislativo e Executivo, assumindo riscos para manterem empresas abertas e postos de trabalho preservados.

Mais do que um braço da pujante economia brasileira, as MPEs converteram-se em agentes importantes de justiça e responsabilidade social. Constituem-se hoje como uma das frentes que, de uma forma ou de outra, colaboram para a diminuição das desigualdades, para o combate à miséria, para o aumento do nível educacional e promoção de oportunidades para os cidadãos.

Os reflexos da crise que vivemos se perpetuarão por anos. O país e as empresas não vão se recuperar da noite para o dia e terão de se adequar a uma realidade desconhecida. Essa será uma tarefa árdua que dependerá de um esforço que envolverá todos os espectros da sociedade.

Atitudes de empatia e sinergia demonstradas por lideranças empresariais e, principalmente, por cidadãos como os clientes do Seu Nelson Simeão, dão mostras da capacidade de recuperação e solidariedade do povo brasileiro. Um traço da nossa gente que, de certa forma, foi aflorada pela pandemia e que, esperamos, não se perca nunca mais.

José César da Costa

José César é empresário do ramo de construção civil e materiais de construção há 38 anos e formado em Administração. Foi presidente da FCDL-MG no período de 2007 a 2013. Atuou ainda como vice-presidente do Conselho Deliberativo do SPC Brasil. É presidente da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) desde 2017.

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