Ontem eu passei na porta de uma Unidade de Pronto Atendimento. Ante aquela movimentação de ambulâncias, carros e pessoas uma cena me chamou a atenção: do outro lado da rua um pai com uma criança no colo.
Me lembrei de uma história que ouvi recentemente dando conta de um rapaz que chegou num pequeno supermercado de bairro, um desses mercados de vizinhança que possuem de tudo. Era um sábado à tarde e aquele jovem foi comprar algumas poucas coisas para a sua casa e para a sua filha de poucos meses; dinheiro contado e lista grande.
A primeira coisa que aquele jovem pai e marido fez foi pegar uma latinha de cerveja. Ao ouvir aquele som característico da abertura da latina de cerveja ele sorriu, bebeu e relaxou. Seguiu, dai por frente para pegar alguns mantimentos entre óleo, arroz, macarrão, extrato de tomate, carne e alguns outros itens. Na lista também havia leite, farinha, achocolatado e bolacha para sua filha. Completou as compras com um pacote de cervejas e cigarros.
Chegando no caixa o valor ultrapassou o esperado. Contou seu dinheiro e definitivamente deveria tirar algumas coisas. Apesar do rubor em seu rosto ele tirou do caixa alguns itens entre eles as bolachas e um pouco do leite.
As contas foram refeitas e então o dinheiro foi suficiente para pagar as compras, ainda que apenas em parte. Quando pegou o dinheiro para quitar as compras seu olhar repousou sobre as sacolas e então seu coração partiu ao perceber que as bolachas e um pouco de leite estavam ficando para trás, mas a cerveja e o cigarro estavam indo.
Num ímpeto de coragem ele se virou novamente para a pessoa que operava o caixa, se desculpou e pediu para ela cancelar alguns itens e incluir as bolachas e o leite. Naquele momento, o rapaz, apesar de ter vinte e poucos anos e já ter constituído família, literalmente virou a chave; mudou o seu destino e voltou para casa com as sacolas certas, sem dinheiro no bolso mas feliz. Naquele momento ele assumiu a sua posição, assumiu o seu papel de pai e de marido. Nas palavras do Padre Zezinho: "(...) e que o homem carregue nos ombros a graça de um pai (...)"
Essa história é verdadeira e se passou no início da década de 1980. Aquela criança bebeu o seu leite, comeu as bolachas e cresceu em graça e paz, alegre e feliz e nunca mais viu o seu pai nem beber, nem fumar.
Fúlvio Ferreira -presidente do Conselho Superior da CDL Uberaba
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