A incorporação da classe C no mercado de consumo no Brasil não é novidade e as marcas não devem encarar esses consumidores como uma massa uniforme. A economia estável dos últimos dez anos do país possibilitou também a estabilidade e o amadurecimento da nova classe média.
Apesar de ser considerada uma revolução do ponto de vista econômico, a guinada de 40 milhões de pessoas que saíram da linha de pobreza e se fixaram no mercado de consumo entre 2003 e 2011, não é um momento único no país. De acordo com a pesquisa "O que mudou, para quem mudou? Entender, prever e atender o consumo emergente", da GS&MD - Gouvêa de Souza, apresentada no 15º Fórum de Varejo da América Latina, o Brasil passou por crescimento semelhante ou até mais significativo na década de 1970, quando boa parte da população migrou do campo para a cidade e começou a adquirir bens de consumo duráveis, como automóveis.
Quarenta anos depois, a grande diferença está na forma com a qual o consumidor se relaciona com as marcas e na ampliação dos canais que esses grupos podem usar para conversar com seu público. Antes focadas no rádio e na televisão, a comunicação das empresas se estendeu para o campo digital, onde é necessária uma adaptação e adequação da linguagem.
De acordo com a pesquisa, a nova forma de comprar do brasileiro emergente pode ser chamada de "mais por menos". São pessoas cada vez mais exigentes com o que escolhem, mas que são conscientes na hora de gastar.Os atributos mais valorizados, segundo a pesquisa, são preço, variedade, qualidade e marca.
A entrada definitiva dos consumidores "mais por menos" acaba definindo dois movimentos paralelos no Brasil, segundo a pesquisa. De um lado, a imagem de estabilização financeira pela qual o país passou agregou um grupo imenso de novos consumidores no mercado, o que atraiu a ambição de novas marcas, produtos e operadores de varejo internacionais. Para se estabelecerem, esses grupos tendem a atacar inicialmente alguma posição de nicho, mais fácil de oferecer uma vantagem superior por meio de estratégia segmentada.
Do outro lado, esse consumidor emergente surgiu com um nível de consciência sobre seus desejos, com conhecimento dos canais onde ele pode expressá-los e crítica muito maior, exercendo uma pressão sobre o mercado para que ele busque alternativas para satisfazê-lo.
A alternativa para as marcas se exporem, dialogarem e segmentarem seus produtos está na conveniência para o consumidor. O sortimento tem que estar alinhado com a proposta de valor e o foco de quem vai comprar. Não adianta oferecer algo que não faça parte dos hábitos daquela classe social, com preços que não sejam atraentes.
Isa Sousa, do Mundo do Marketing