O planejamento estratégico é um processo que busca questionar os acionistas e executivos sobre a real capacidade da empresa competir no futuro. Não se trata de um plano, mas de um processo de gestão fundamentado na elaboração de diagnósticos e na definição de objetivos de longo prazo e de estratégias de transformação. Seu propósito é a criação de condições futuras para a viabilidade e o crescimento do negócio. Portanto, exige a capacidade de "pensar no amanhã", que difere do costume de "preocupar-se com o hoje". Para alguns uma necessidade óbvia, para outros, teoria dispensável. Em algumas empresas, realidade, em outras, ficção. Existem experiências que deram certo, outras não. Enfim, qual a situação do planejamento estratégico na atualidade?
A consultoria Bain & Company vem realizando, desde 1993, um estudo mundial sobre o emprego de ferramentas de gestão e a satisfação que elas trazem a quem as utiliza. Em sua última edição, em 2009, 10.000 participantes responderam à pesquisa e colocaram o benchmarking em primeiro lugar em utilização (76% das empresas), passando o planejamento estratégico para o segundo posto (com 67%) após 11 anos de liderança. Segundo os responsáveis pelo levantamento, isso ocorreu em virtude da crise mundial, que além de fazer as empresas reduzirem a quantidade de ferramentas em uso (de 15 em 2006, para 11 em 2009, em média) fez com que as mesmas buscassem mais soluções de curto prazo e cortes de custo. Entretanto, quando se analisa a satisfação com relação ao uso da ferramenta, o planejamento estratégico encabeça a lista das 25 alternativas pesquisadas, enquanto o benchmarking ocupa apenas posição intermediária neste ranking.
Além da eficácia do planejamento estratégico, o estudo da Bain & Company é explícito ao afirmar que, mesmo diante de um contexto difícil, como aquele verificado no ano passado, existe otimismo e forte tendência de uso de ferramentas voltadas ao desenvolvimento organizacional, com especial destaque para a cultura e a inovação. Neste contexto, América Latina e Ásia são as regiões que se mostram mais confiantes com relação ao futuro e, portanto, mais propensas ao emprego de ferramentas voltadas ao aumento da competitividade e o crescimento. Mesmo assim, um dado chama atenção: o varejo é um dos setores (juntamente com a construção civil, energia e serviços financeiros) que menos utiliza ferramentas de gestão. Então, considerando-se o quadro aqui desenhado, isso pode ser observado como uma fraqueza do setor, ainda que isso represente uma média internacional. Por outro lado, caso se constitua em uma realidade local, passa a ser uma excelente oportunidade para os varejistas que part irem na frente no desenvolvimento de seus programas de planejamento estratégico.
Roger Born é Diretor da Vossa - Estratégia e Comunicação e Professor de Planejamento Estratégico da ESPM-RS.