Lá atrás o furto aos desabrigados de Santa Catarina, a negociação da vaga no senado americano, a agora aqui a prisão de desembargadores, juízes, deputados e governador, e os critérios - se os há - para preenchimento de cargos nos governos e nos conselhos das estatais, como se explicam?
Será no egocentrismo, na falta de pensar o outro, a comunidade, o país, e, principalmente, nos interesses e "direitos" nossos que agridem os dos outros?
Ou talvez, se isso parecer simples demais, e a coisa toda é abismal, tem a ver com nossa recusa ou até impossibilidade de "enxergar " por ângulos diferentes dos nossos, de entender nossas idiossincrasias, através das lentes dos outros?
Na constatação da predominância do consumismo, da valoração ao ter? ou será que a derrocada dos valores éticos é expressa: nos que param nas faixas de trânsito, ultrapassam com o sinal vermelho, atravessam fora das faixas, vendem sentenças, jogam papéis pelas janelas, furtam CDs e resmas de papel, compram em camelôs, calçam propostas, estacionam nas praças e calçadas, urinam nas praias e ruas, fazem gatos na água, na luz, nas TVs a cabo, fingem que ensinam, despedem pessoas aos borbotões, sem prepará-las para um novo trabalho. Muitas destas posam de Responsabilidade social!
Ademais, o que poderia levar, por exemplo, um camponês lá da Bolívia, da Colômbia ou do nosso Nordeste, a se recusar a plantar o que irá, bem lá longe, destruir milhares de pessoas e seus familiares, incentivando o crime, a miséria e a corrupção?
Assim, o que reclamar de uma proposta indecorosamente "criativa" feita por um dos "generais" asiáticos: os Estados Unidos deveriam comprar a produção de narcóticos - com desconto, ainda -, resolvendo assim, ao mesmo tempo, o problema da sobrevivência de seu povo e dos novaiorquinos drogados.
E dos executivos que ganham de bônus 25 milhões de dólares por ano? Uma insanidade! Não há espanto no mimo a quem está liderando a marcha da empresa à falência? Quem sabe cada gestor deva apresentar qualquer forma de garantia ou caução, pelo menos equivalente aos seus ganhos em potencial?
Enfim, antes de tudo, reconhecer que as crise financeiras não são episódicas, mas a que mais preocupa, é a crise moral e ética, que imobiliza e venda os olhos para a financeira, construída de maneira silenciosa, mas com a cumplicidade de quem deveria regular. Tratemos das causas!
Desse modo, há de haver mobilização ininterrupta e espaço para as denúncias, tratar as conseqüências, os problemas, não com manifestações isoladas, à época das eleições, em passeatas na orla ou nas avenidas, dissociadas do contexto geral.
Aqui, ali e acolá, as pessoas estão desatentas, sentenciosas, ignoram os bons modos, rudes nesse aspecto, conhecem a educação formal e a valorizam como status máximo os brevês adquiridos nos países "civilizados" e o tamanho e a potência das TVs e dos carros.
Destarte, por não conhecerem as suas origens, o seu país, e não compreendem as mudanças silenciosas e as abruptas, ficam à mercê dos modismos; são passageiras, rasas e ligeiras. E imprudentes quando se esquecem da preparação continua para evitar o descarte na jovialidade dos cinquenta anos, decorrente da adolescente automatização. Só agora percebida!
Ou seja, será que não está mais que na hora de arriscar, ousar e inovar?
Enxergar com outros olhos o espaço em que vivemos, com toda sua complexidade, percebendo que isso é uma questão de vontade? Redescobrir o Brasil!
Luiz Affonso Romano é consultor Organizacional e Coach de Consultores.